Ela é manipuladora, sedutora, bela e inteligente. Mas, acima disso, Suzane von Richthofen é uma criminosa que uma vez quebrou a rotina dos assassinatos comuns ao mandar matar seus pais. E, ainda mais contundente, ela continua partindo ao meio a rotina de todo o país, que sempre para para acompanhar seus passos. Dessa vez, seu casamento com outra mulher — ainda por cima ex-companheira da assassina de Marcos Kitano Matsunaga, o dono da companhia de alimentos Yoki.
Por que essa fascinação?
Assim como a sociedade vê novelas, ela é informada e alimenta curiosidade sobre crimes como o cometido por Suzane, opina o psiquiatra forense Rogério Cardoso, diretor-técnico do Instituto Psiquiátrico Forense (IPF).
— A novela tem pessoas boa e más, assim como no cinema e no teatro. De certa forma, e isso é uma hipótese minha, isso talvez atenda a demanda das pessoas para ter algo excepcional, que saia da rotina da vida de cada um. A maior parte das pessoas faz o quê? Pega o seu carro, seu ônibus, sua bicicleta, o seu trem, passa o dia trabalhando, termina isso e volta para casa e fica na frente da televisão vendo novela. São vidas muito rotineiras. A pessoa que cometeu um crime é desrespeitadora dessa rotina, do ordenamento ético e jurídico da sociedade — descreve.
Cardoso cita a mídia como grande impulsionadora da notoriedade desses criminosos. Não se deveria evitar a divulgação de tantos detalhes sobre matadores? Ele compara com os suicídios, que não são divulgados para não gerarem ondas de mortes. Um dia depois do suicídio de Marilyn Monroe, recorda, houve um "aumento estúpido no número de mulheres da mesma faixa etária dela" que se mataram.
O psicanalista Mário Corso contextualiza o presente como uma "época de famosos". Ainda que seja em um sentido negativo, a fama de Suzane também atrai porque rompe a barreira civilizatória.
— Temos uma espécie de fascinação por esses personagens que fazem o que a gente só pode fazer na fantasia. A gente não sai matando por aí. Mas tem gente que cruza essa barreira. É um ato que tem um caráter heróico no sentido pejorativo, porque se questiona "como a pessoa conseguiu romper essa barreira"? — provoca Corso.
Essa falta de explicações é um fator que causa ainda mais atração sobre um crime, entende a psicóloga clínica e forense Maria Adelaide Freitas Caires, autora do livro Psicologia Jurídica - implicações conceituais e aplicações práticas(Vetor Editora). Tudo sobre o qual paira uma incompreensão causa um "grude", explica. Ela compara Suzane a outros criminosos que também geraram impacto, como Francisco de Assis Pereira, o Maníaco do Parque, e Mateus da Costa Meira, o Atirador do Cinema:
— Todos eles recebem muitas cartas de pessoas absolutamente apaixonadas. É chocante. Eu acho que nenhum ator de cinema, um galã, recebe tantas cartas como eles. Isso se explica porque eles detêm um poder, param uma sociedade inteira em torno deles. Quantos artistas plásticos ou cientistas fizeram coletivas de imprensa neste país? Os bandidos, sim.
O psiquiatra forense Guido Palomba, responsável pelo laudo criminológico de Suzane, afirma que o caso chamou atenção pelas características do crime, inusitado e com características de perversidade, pela posição social da família e até mesmo pela beleza da criminosa:
— Essas características, somadas, levantam a curiosidade. Mas é claro que a principal causa é a forma como o crime foi praticado, a morte dos pais de forma fria, cruel, premeditada. O fato também de ela ter ido logo em seguida a festas. Isso tudo chamou a atenção das pessoas.
O psiquiatra Luiz Carlos Illafont Coronel, ex-diretor do IPF e do Hospital Psiquiátrico São Pedro, define Suzane como portadora de transtorno antissocial, certamente com componentes do cérebro afetados desde o nascimento. Esse tipo de patologia é reponsável por perversidades, distúrbios sexuais, impulsividade, agressividade e uma impossibilidade de sentir culpa. De 1% a 3% da população tem o perfil semelhante ao de Suzane, salienta Coronel:
— Nem todos estão na cadeia. Alguns, até no Congresso Nacional estão.
Casamento no cárcere
Suzane von Richthofen, condenada a 39 anos e 6 meses de prisão pelo assassinato dos pais em 2002, mudou de vida dentro do presídio de Tremembé: após se tornar evangélica e abrir mão de lutar pela herança, ela se casou com Sandra Regina Gomes, condenada a 27 anos de prisão pelo sequestro de uma empresária de São Paulo. As informações são do jornal Folha de São Paulo.
Recentemente, ela trocou a ala das evangélicas da penitenciária feminina – onde residia até então – para ocupar a cela especial das presas casadas com a nova parceira. O novo casal trabalhava na fábrica de roupas da prisão junto com a ex de Sandra, Elize Matsunaga, presa pela morte e esquartejamento do marido Marcos Kitano Matsunaga em junho de 2012. O relacionamento teria terminado em função de Suzane.
No presídio, as detentas podem assinar um documento de reconhecimento de relacionamento afetivo, que funciona como uma certidão de casamento e permite que casais vivam juntos. Caso um casal se separe, é necessário seis meses para que a presa possa voltar a utilizar a cela especial. A atual parceira de Suzane teve que cumprir a quarentena após se separar de Matsunaga.
O relacionamento é apontado como um dos motivo para Suzane ter negado a progressão para o regime semiaberto. Em agosto, a juíza da Vara de Execuções Penais de Taubaté, Sueli Zeraik de Oliveira Armani, havia concedido o direito à Suzane, que declarou que preferia permanecer no presídio.
Fonte: zh